Este senhor é o meu avô materno. Nasceu na Zebreira, em 1951, e vai contar uma pequena história da sua vida, na Guerra do Ultramar.
“Dia 9 de Abril de 1973, embarquei no cais de Alcântara Mar, no navio Uíge. Cheguei à Guiné-Bissau, no dia 18, permaneci lá 2 dias e depois fui para Bafatá.
Eu pertencia a um esquadrão de cavalaria que se chamava 8840 Rec Fox Dragões do Leste. A minha especialidade era condutor e pertencia ao 1.º pelotão do mesmo esquadrão, que tinha o nome de Diabos Vermelhos. Conduzia chaimites e uaytes (carros blindados). Como a minha profissão civil era pedreiro, ainda fiz algumas obras, no quartel, como uma cantina e fornos. Como eu era pedreiro, o meu comandante mandou-me para uma vila de alto risco, chamada Canclifá, para fazer tabancos (casa dos africanos). Aquilo era tão perigoso que eu e os meus companheiros fizemos 12 tabancos e destruíram-nos 10 e ainda me destruíram o meu abrigo subterrâneo, onde eu dormia, e depois tive de dormir, na vala, debaixo da mangueira.
A fase mais difícil que lá passei foi quando via cair os meus companheiros que morriam com os ataques de mísseis, morteiros e granadas. Chegavam a pôr minas nas estradas, para, quando os nossos carros e chaimites passassem, rebentarem.
Regressei à metrópole, dia 4 de Setembro de 1974. Estes 17 meses foram os meses mais dolorosos e mais tristes da minha vida. Todos os anos, fazemos um encontro dos Dragões de Leste e ainda encontro companheiros do meu plotão, os Diabos Vermelhos.”Bruno Costa