A minha avó materna, Deolinda de Jesus, nasceu na aldeia de Rochas de Baixo, freguesia de Almaceda, concelho de Castelo Branco, no ano de 1928.
Contou-me como viveu a sua mocidade na aldeia.
«Nasci numa família pobre, tinha 7 irmãos, mas 2 deles faleceram a nascença devido ao atraso na medicina.
Havia poucas vacinas e poucos medicamentos, raramente íamos o médico e, quando tínhamos alguma doença, éramos tratados pelo barbeiro da aldeia. Ele ainda me chegou a arrancar um dente sem anestesia nem nada.
A nossa alimentação era muito pobre. Comíamos sopa com conduto. Criávamos um porco que tinha de durar para todo o ano. Bebíamos leite de cabra e fazíamos queijo. Comíamos ovos das poucas galinhas que criávamos. Apenas os homens bebiam vinho. Só comíamos o que criávamos, não havia dinheiro para comprar coisas. Muitas das vezes, uma sardinha tinha de ser dividida por três pessoas.
Os nossos tempos livres eram, aos domingos, ir até ao chafariz, ir às romarias e à missa. Já os homens jogavam às malhas e às cartas.
Nenhum dos meus irmãos foi à escola, os meus pais não tinham condições.
A nossa roupa era pouca e dividia-se em duas partes: tinha duas mudas de roupa para o trabalho e uma para o domingo.
Não tínhamos transportes. Quando queríamos ir a algum lado, tínhamos que ir a pé, íamos sempre a pé às festas.
A vida hoje em dia é totalmente diferente. Os adolescentes não têm de fazer esforços, nem trabalhar, nem nada. E têm tudo.»
Ana Rita Faustino